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  HISTORIA DE NOVA XAVANTINA PARTE 4  
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Como o início de construção trouxe um novo alento a todos que já haviam se radicado por aqui. A construção demorou uns três anos, pois em 1956, sabendo que o então presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira iria inaugurá-la, decidiram vários daqui de Xavantina, participar de ato tão importante para o desenvolvimento da região.

Uma jardineira, veículo de transporte dos integrantes da Expedição
Roncador-Xingu.

Apesar do período se chuvoso, pois era mês de fevereiro, João de Deus e Maria Rosa, juntamente com mais alguns companheiros, iniciaram a viagem de Xavantina a Barra do Garças.

Em cima da carroceria de um pequeno caminhão que dava apoio aos trabalhos da base, o grupo de pioneiros voltava a trilhar o caminho que um dia fora aberto pelas suas próprias mãos. O momento era muito importante e significativo, isso sabiam todos.

Pois aqueles que em cima daquela caminhão, em clima de festa, enfrentando os 150 quilômetros de uma estrada cheia de acidentes e de pinguelas perigosas, um dia sonharam em ver estas terras povoadas, o progresso tomando conta de tudo, e esse acontecimento era o selo definitivo que uniria a região ao resto do Brasil. Era a certeza de que seus sonhos estavam se tornando realidade.

Não é preciso dizer da satisfação de todos em ter bem perto deles o presidente que representava a redenção do Centro-Oeste brasileiro.

Foi promessa de sua campanha presidencial transferir a capital do Brasil, do Rio de Janeiro para um local não muito longe daqui, lá para os lados da cidade de Goiânia. Esse era o comentário geral com o qual ele já tinha tido contato nas vezes anteriores que esteve em Goiânia.

O fato é que com a ponte que estava sendo inaugurada, novos melhoramentos viriam para a região.

A ligação terrestre entre Aragarças e as cidades de Iporá e Goiânia ficavam melhores. Já se podia fazer o percurso com apenas um dia de viagem. Isso tudo representava o progresso tão sonhado por todos que viviam para além do Araguaia.

O ÍNDIO E O BRANCO

Outro episódio que marcou muito a todos nesse ano de 1954, foi a casamento de Aires Câmara da Cunha, membro da expedição, com a filha do chefe dos Calapalo, a índia Diacuí.

Foi um grande acontecimento, pois ela foi levada ao Rio de Janeiro, conheceu todos os hábitos e costumes dos brancos. Como era uma índia bonita, onde ia, causava sensação. Era uma verdadeira badalação.

O casamento dos dois se realizou com todas as pompas, na Igreja da Candelária, numa festa que foi muito falada por aqui. Esse casamento simbolizava a integração entre os brancos e índios.

Pena que tenha terminado de maneira tão trágica.

Ela esperava o primeiro filho do casal. Mas não resistiu ao parto que se complicou e ela veio a falecer. Foi um triste acontecimento para todos que esperavam ver nos rebentos desse casamento a consolidação da integração das raças.

Em 1957 chegaram notícias aqui em Xavantina que a nova capital do Brasil começava a ser construída. Brasília já era uma realidade. O presidente prometeu inaugurar a nova capital ainda em seu governo, e isso seria até o ano de 1961.

Desenhava-se na cabeça de João de Deus uma nova aventura. Conhecer o local da nova capital do país.

Voltando a Xavantina a idéia de ir até onde estava sendo construída a nova capital passou a fazer parte de seu dia a dia.

Conversou animadamente com Maria Rosa e decidiram que assim que pudessem, iriam até lá.

A PRIMEIRA ALEGRIA DO CASAL

Enquanto faziam planos para essa nova viagem quando para surpresa do casal Maria Rosa anuncia que está esperando um filho. Essa notícia foi um misto de surpresa e felicidade. Já havia algum tempo que os dois desejavam tanto essa criança que já haviam até desistido de esperá-la. Mas eis que ela resolve aparecer.

Os nove meses que se sucederam foram todos dedicados a preparar a casa para receber o novo morador.

Durante as noites ficavam tentando adivinhar se seria menino ou menina. As mudanças no corpo da mulher já podiam ser vistas.

A barriga crescia a cada mês. O período de enjôo não foi muito. E Maria Rosa estava sempre disposta.

Mas quando se aproximava o dia da criança nascer, os trabalhos de casa já não podiam ser feitos com a mesma disposição.

Numa manhã do mês de julho de 1958 vinha ao mundo uma linda menina, nas instalações do hospital da Fundação aqui mesmo em Xavantina.

Foi batizada com o nome de Vitória, numa homenagem à vitória alcançada pela expedição Roncador-Xingu, que conseguiu atingir muito além das metas estabelecidas quando de sua criação.

E o final do ano de 1958 foi todo dedicado à nova companhia do casal.

O TRABALHO NA CHÁCARA

O trabalho no almoxarifado já não era tão intensa como no começo. Os funcionários da expedição Roncador-Xingu, quando esta foi extinta, haviam passado para a Fundação Brasil Central e, João de Deus, com essa mudança, passou a dedicar seus dias em cuidar de uma pequena chácara que havia ganho nas proximidades de Xavantina, como prêmio por todo seu trabalho como expedicionário pioneiro.

A chácara, de uns quatro hectares, ficava às margens do córrego Mortinho. Todos os dias, depois de cumprir suas tarefas na casa da chefia, dirigia-se para seu pedaço de terra e nele trabalhava bastante. Primeiro desmatou um bom pedaço, depois plantou algumas mangueiras, um hábito por aqui, pois é uma árvore que em poucos anos está dando bons frutos, e também alguns pés de laranja. Preparou um outro pedaço da terra e plantou um mandiocal, do qual retirou farinha quase todos os anos.

Quando era época de colheita, toda a família ia para a chácara. Lá ele construiu uma pequena casa coberta de palha e de paredes de pau a pique, técnica que conheceu quando ainda estava em sua terra natal.

O córrego sempre foi perene e ele se utilizava de suas águas para produzir outros alimentos como o arroz, o feijão e o milho.

O arroz era plantado depois que o período das chuvas se iniciava, lá pelo mês de novembro. Já o milho, um pouco mais tarde. Mas o que ele gostava mesmo era de plantar o feijão fora de época, pois podia irrigá-lo. É que sua chácara, assim como a de outros colegas era cortada por um pequeno desvio do córrego, que corria estrategicamente pela encosta da barranca que se acentuava muito com a descida do carrego a partir da nascente.

Com esse "rego", conseguiram, em uma distância de 500 metros, um desnível de uns dois metros mais ou menos em relação ao leito original do carrego e uns 50 metros de largura entre eles. E era nesse espaço que ele colhia seu feijão.

Como havia espaço, construiu um chiqueiro, que sempre tinha porcos na engorda. Com isso conseguia banha barata para cozinhar e vez por outra, em dia de festa, uma carne de porco para ajudar.

 

Conforme a tempo passava, o apoio direto da Fundação Brasil Central aos seus funcionários aqui destacados, passou a ser menos intenso.

Havia necessidade de que aqueles que aqui moravam, complementassem, com produção local, o abastecimento de suas dispensas.

Isso mantinha todos ocupados.

Não havia energia elétrica ainda, e de equipamentos modernos somente algumas geladeiras movidas a querosene.

E João de Deus não era um desses privilegiados.

A REBELIÃO DE ARAGARÇAS

O ano de 1959 passaria como outro ano qualquer, não fosse o episódio da rebelião de alguns oficiais da Força Aérea Brasileira baseados em Xavantina e Aragarças.

Os motivos que levaram esses oficiais a um ato tão extremo, João de Deus não pôde compreender bem, mas esse episódio fez com que as autoridades do governo federal voltassem novamente a dar integral apoio para esta região.

Todas as atenções do presidente Juscelino Kubitschek estavam voltadas para a construção da nova capital, e a região recém desbravada, havia ficado em segundo plano.

VISITANDO BRASÍLIA

Em 1960, João de Deus, juntamente com sua querida Maria Rosa, resolve visitar a nova capital.

Consegue uma dispensa temporária da Fundação e embarcam em um avião, com destino a Aragarças, de onde seguem para Goiânia.

Puderam ver como a cidade havia se transformado desde a ultima vez que lá estiveram.

Ficaram uns três dias na casa de parentes de um amigo seu, que tentou a sorte num dos garimpos de diamante em Barra do Garças. Era uma família de maranhenses, muito simpática e acolhedora.

Seu Tenório, o chefe da família, se prontificou em os acompanhar nessa visita ao local onde estavam construindo a nova capital.

Seu Tenório tinha amigos que trabalhavam no transporte de materiais de construção para Brasília. Ele conseguiu uma carona em um dos caminhões da transportadora.

Depois de passar um agradável final de semana com aquela família, ele, sua esposa e seu novo parceiro de aventuras, partiram para Brasília.

A estrada, muito movimentada e por isso com muita poeira, passava por Anápolis, naquele tempo uma pequena cidade. Fizeram o pernoite lá. No dia seguinte, bem cedo, depois de um cafezinho, partem para a capital.

A viagem, embora demorada, não teve qualquer problema. Só os assustava um pouco, o grande movimento de caminhões e máquinas de todos os tipos.

Como o caminhão no qual estavam devia fazer a entrega e depois iria para o garagem da companhia, seguiram com ele até o local da entrega e de lá pediram que ele os levasse para uma pensão, onde hoje fica o núcleo Bandeirante.

Depois de um bom banho, saíram para conhecer a noite. O movimento era grande. Podiam observar que haviam homens das mais diversas regiões do Brasil. Parecia uma reprodução ampliada mil vezes daquilo que um dia foi a expedição Roncador-Xingu.

As casas, todas de madeira, mostravam um grande acampamento. Paulistas, mineiros, goianos e principalmente homens do nordeste compunham aquela massa humana que vivia ali.

Entraram em um restaurante para jantar. O prédio também feito de madeira, estava cheio. Deviam ter umas cinqüenta mesas espalhadas por um amplo salão iluminado. O cheiro de comida no ar, despertou ainda mais a fome. Sentaram-se e pediram a refeição. Enquanto comiam, puxaram conversa com alguns homens que estavam na mesa ao lado. Depois de se apresentarem, buscaram informações de como poderiam visitar as obras da grande cidade.

Foi aí que perceberam que estavam efetivamente dentro de uma grande, uma enorme, uma gigantesca construção. A cidade inteira era o canteiro de obras, e para poderem andar por ela, tinham que ter autorização ou então estar em um dos veículos autorizados a entrar. Só transitavam por ela os carros das construtoras, as máquinas, os caminhões que traziam material para as construções ou os ônibus destinados ao transporte dos empregados.

Decidiram que na manhã seguinte iriam procurar novamente o amigo, na transportadora, para tentar uma forma de visitar mais de perto as construções.

E na manhã seguinte lá estavam os três. O amigo os apresentou para os responsáveis pelo escritório da companhia e acertaram uma ida ao canteiro das obras num carro pequeno do escritório.

Logo que chegaram João de Deus e Maria Rosa não conseguiam entender o que estava acontecendo.

Um vasto descampado, um enorme espaço de terra nua, toda remexida, surgiu diante de seus olhos. Aqui e ali um esqueleto de prédio em construção, mais além uma grande estrada sendo aberta. E em todos os locais onde havia uma construção, fervilhava de homens, carros e máquinas por todos os lados. Esses eram os candangos, como eles mesmos se autodenominavam.

Um movimento de máquinas que nunca tinha visto, nem nas derrubadas que abriram a estrada que ele junto com seus colegas de expedição haviam aberto entre Barra do Garças e Xavantina.

Seu primeiro sentimento foi de um vazio total. Teve a impressão de perder todas as referências. Conforme andavam por entre aquela loucura total, Adriano, o motorista do carro, tentava lhes explicar que em determinado lugar seria o Eixo Monumental, que em outro seria um prédio residencial, que naquele outro seria a rodoviária, mais a frente seriam os ministérios, adiante o Palácio do Planalto, o hospital, os prédios comerciais. Mas a única coisa que conseguiam ver era a confusão geral. Não compreendiam nada.

Adriano desistiu de tentar explicar e ficou apenas observando as reações do casal.

Ao chegarem em frente de um prédio, Adão contou que um daqueles caminhões que transportam concreto, havia atolado bem em frente, mas que devido aos grandes aterros que estavam sendo feitos, cada vez que tentavam tirar o caminhão do atoleiro, mais ele afundava na terra molhada e solta. Foram tantas as tentativas que em um determinado momento o caminhão que insistia em permanecer ali, estava atrasando os trabalhos. Como as multas por atraso eram altas, os engenheiros decidiram enterrar ali mesmo o caminhão.

Isso era demais. Enterrar um caminhão? Eram loucos. Mas o certo é que havia todo o tipo de construção possível e imaginável. Pontes, viadutos, desvios, num traçado que parecia que ninguém sabia realmente o que estava fazendo ou onde queria chegar.

Foram até o local onde estavam sendo construídos os prédios dos ministérios. Pareciam gigantes perfilados, lembrando o dia em que os expedicionários, de enxadas nos ombros, como se estivessem carregando fuzis, postaram-se ao lado da pista de pouso de Xavantina, no dia em que pousou o primeiro avião com autoridades em visita.

Ao fundo, erguia-se um prédio alto, com duas conchas estranhas de cada lado. Parecia uma construção enterrada no chão. Adriano disse que ali seria o Congresso. Um dos lados para o Senado e o outro para a Câmara dos Deputados.

Visitaram a construção da Catedral, que já estava bem adiantada. Também era uma construção com parte enterrada no chão. Diferente. Tudo novo. Nada daquilo que ele conhecia se comparava àquelas construções.

Andaram mais uns dois quilômetros e foram até o Palácio da Alvorada, onde seria a residência oficial do Presidente da República. Depois de algumas outras visitas, a tarde já chegava. Era hora de voltar.

Novamente na transportadora combinaram a carona de volta a Goiânia.

No dia seguinte antes de amanhecer, João de Deus, Maria Rosa e seu Tenório já estavam na estrada, deixando para trás uma monumental cidade.

Um sentimento estranho no coração, pois não conseguiram entender o que estava acontecendo, o nascimento da cidade que é hoje, patrimônio vivo da humanidade.

Mas naqueles dias, uma verdadeira torre de Babel.

Na volta João de Deus e Maria Rosa aproveitaram a estada em Goiânia para fazer algumas compras.

Levaram presentes para a pequena Vitória.

Na chegada, foi pelo menos uma semana para contarem tudo o que viram. Todos os companheiros de expedição estavam curiosos, e todas as noites vinham até sua varanda ouviras histórias daquela que seria a futura capital.

O tempo passava e 1961 chegava. 21 de abril desse ano foi a data marcada pelo Presidente Juscelino para a inauguração da nova capital. João de Deus acompanhava tudo pela rádio.

Enquanto ouvia as notícias, imaginava o que estava acontecendo, pois esteve lá.

NOVOS VENTOS SOPRAM

E a inauguração de Brasília trouxe um impulso muito grande de desenvolvimento para toda a região Centro-Oeste do Brasil.

Uberlândia, Goiânia, Rio Verde, Aragarças, Barra do Garças e algumas outras cidades muito se beneficiaram desse fato.

Mas os fatos políticos que se sucederam com a renúncia do Presidente Jânio Quadros, se refletiram em Xavantina.

Os trabalhos de vanguarda da expedição continuavam na região do Xingu, principalmente no contato com os índios, feitos pelos irmãos Vilas Boas.

E a vida em Xavantina continuava sem grandes alterações. João de Deus e Maria Rosa, agora já estavam com mais dois filhos, Eduardo e a caçula Alzira.

Passou a dedicar mais do seu tempo para a chácara, enquanto acompanhava os acontecimentos da revolução de 1964

O fato do Governo ser militar não alterava nada na rotina de vida de Xavantina. Foi um período tranqüilo para Xavantina. Pouca coisa acontecia.

Houve um ensaio de guerrilha no baixo Araguaia entre os anos de 1966 a 1970, mas as notícias não chegavam a Xavantina.

Apenas as conversas daqueles que vinham de São Felix do Araguaia, de Luciara ou das regiões vizinhas é que falavam da existência de um grupo que queria fazer uma contra - revolução. Não aceitavam o governo militar. Mas muito pouco ficou sabendo sobre o que efetivamente aconteceu.

No final de 1967 é criada a SUDECO - Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste, que passou a administrar todo o trabalho desenvolvido pela Fundação Brasil Central.

Os funcionários da Fundação passaram a fazer parte dos quadros da SUDECO. A sede da SUDECO era em Brasília. Daí alguns dos colegas de João de Deus se mudaram para lá.

A PONTE SOBRE O MORTES

Foi a SUDECO a responsável pela construção da ponte sobre o Rio das Mortes.

Todos em Xavantina puderam colaborar nessa construção. João de Deus lembra que durante um certo período auxiliou na construção dela.

Essa ponte representava para todos a integração definitiva dessa região no contexto nacional.

O movimento na cidade já era grande, e a balsa instalada no pequeno porto de Xavantina já não suportava mais o tráfego intenso.

Essa ponte foi inaugurada em 3 de dezembro de 1971.

 

A OCUPAÇÃO DOS SULISTAS

Foi pelos idos de 1972 que começaram a chegar os primeiros sulistas na região.

Uma cooperativa do Rio Grande do Sul havia montado um projeto de colonizarão, que recebeu o nome de Projeto Canarana. Vieram umas oitenta famílias nessa primeira leva.

Depois do Projeto Canarana vieram outros como o Projeto Xavantina, Projeto Água Boa, Projeto Vale da Serra Azul e muitos outros.

Esses projetos tiveram alguma dificuldade para deslanchar, pois com o acesso difícil e as autoridades responsáveis pela regularização das terras não acreditando neles, essas primeiras famílias passaram muitas dificuldades.

Foram precisos uns três ou quatro anos para que esses projetos demonstrassem produção efetiva e provassem a todos que eram viáveis.

Os incentivos fiscais da Amazônia também deram algum impulso à região.

Mas os grandes beneficiados eram sempre, os de fora da região.

João de Deus lembra que apenas a mão de obra de peões e cerqueiros eram contratadas aqui. Os chefes geralmente vinham de fora e não se fixavam aqui. Vinham, davam as ordens, programavam as derrubadas, os plantios e logo retornavam.

Lembra que nesse tempo a pista de pouso de Xavantina tinha um grande movimento de pequenos aviões. Esses aviões eram geralmente das grandes fazendas que se instalaram aqui.

No ano de 1975 chegaram os primeiros colonos para se fixarem no Projeto Água Boa.

Passaram por Xavantina e se instalaram a uns oitenta quilômetros, próximo de um dos acampamentos instalados pela expedição, na sua segunda fase.

O esquema desses projetos era o seguinte. Uma área grande de terra era dividida em lotes de aproximadamente 250 hectares. Uma parte dessa área era destinada a um centro comunitário onde ficaria a escola, a sede da associação ou cooperativa dos produtores, uma igreja e outros instrumentos que atendessem aos interesses daqueles que participavam do projeto.

Esse período foi de grande importância para toda a região, que passou a receber o apoio da agência do Banco do Brasil de Barra do Garças.

João de Deus lembra bem que foram anos de grande produção.

Hoje a região está completamente diferente daquela época. Existem vários outros municípios tais como Campinápolis que tinha o nome de Jatobá, o antigo Cocalinho, o município de Ribeirão Cascalheira, a Querência e tantos outros se consolidando, crescendo e ajudando os outros a crescerem.

Foi nessa época também que começaram a freqüentar a cidade um grupo de espiritualistas que afirmavam ser esta região da Serra do Roncador, a região que irá despontar no terceiro milênio.

Eram pessoas agradáveis e que tinham muito desejo de saber a história da fundação da cidade.

Eram também quase todos formados. E muitos deles passaram a residir em Xavantina, auxiliando muito nas escolas, pois eram quase todos formados.

Esses membros da Eubiose, eram conhecidos como o pessoal do Arabutã, pois alguns deles eram proprietários de uma fazenda às margens do Rio das Mortes, que tinha esse nome; o mesmo nome do córrego Arabutã que cortava essa fazenda.

João de Deus e Maria Rosa tiveram grande satisfação de receber alguns deles em casa, quando, em 1975, vieram membros da Eubiose de diversas regiões do país, participar da inauguração de um bonito Templo construído às margens do grande e majestoso rio das Mortes.

As conversas nesses dias se estendiam até a madrugada alta, às vezes com uma roda de violão e muita música.

E João de Deus gostava de ouvir essas conversas que tratavam de uma nova maneira de ver o mundo, uma nova maneira de ser, e sentia-se orgulhoso quando o cumprimentavam por ter sido um verdadeiro bandeirante do século 20.

A EMANCIPAÇÃO POLÍTICA

Os anos de 1980 trouxeram a emancipação política da Xavantina que João de Deus ajudou a plantar e fazer crescer, com um carinho todo especial.

Veio o asfalto, a luz elétrica, a água encanada, o Banco do Brasil, o Banco do Estado de Mato Grosso e o BRADESCO, e tantos outros melhoramentos que fizeram com que esta Xavantina fosse outra Xavantina, bem diferente daquela dos idos de 1940.

Hoje é Nova Xavantina, que em 1980 foi criada com a fusão dos distritos de Ministro João Alberto (a Xavantina) e Nova Brasília.

João de Deus se lembra bem de como começou a se formar o pequeno povoado que deu origem ao distrito de Nova Brasília, na margem esquerda do Rio das Mortes, bem em frente do acampamento da Fundação Brasil Central.

O acampamento e as casas dos expedicionários formavam um bloco só. Era como se fosse uma base militar. Nenhum estranho ficava aqui. Aqueles que usavam a estrada, principalmente a partir dos anos 70, chegavam a Xavantina e tinham que atravessar o rio de balsa e pousavam do outro lado. Com isso foram surgindo as primeiras construções com o objetivo de abrigar os viajantes.

Esse início e o fato de as terras daquele lado do rio terem parte de seus documentos regularizados, deu um impulso comercial maior ao então distrito de Nova Brasília.

Surgiu um pequeno hotel e diversos bares e um pequeno posto de abastecimento de combustível do Geraldo Parreira, um motorista que resolveu casar e se radicar aqui, trazendo com ele os mesmos sonhos que tão bem João de Deus conhecia.

Com a criação do município, fizeram um plebiscito que deu o nome de Nova Xavantina à união dos dois distritos.

Mas Nova Xavantina ainda dependia de Barra do Garças, Aragarças e Goiânia.

João de Deus teve várias vezes que se deslocar para Aragarças para fazer telefonemas, pois nem em Barra do Garças isso era possível.

50 ANOS DE PROGRESSO NO GEO-CENTRO DO BRASIL

Hoje Nova Xavantina tem vida própria; a energia elétrica, o telefone, as estações de rádio e de TV local, e elege os seus próprios representantes.

Tornou-se jovem e independente daquela que durante muitos anos velou pelos seus passos: Barra do Garças. Hoje, as duas cidades juntas lutam para fazer do Vale do Araguaia a realização dos sonhos dos antigos pioneiros e desbravadores como ele.

Para João de Deus o seu sonho de jovem adolescente tornou-se realidade.

Vive com toda sua família aqui, às margens do lendário Rio das Mortes, que nunca lhe causou mal algum, ao contrário, sempre lhe deu grandes lições de vida.

---x---

A noite já ia alta, e naquela varanda a brisa fria vinda do rio, balança os seus cabelos que se tornaram brancos pelo tempo.

Perdido em seus pensamentos João de Deus faz uma retrospectiva desses anos todos que já viveu aqui.

Desde os trabalhos da primeira turma, da qual participou e que abriu a picada inicial rumo ao Xingu, desbravando terras totalmente desconhecidas, por um percurso feito, naquela época, em 87 dias, até hoje, quando se pode fazer esse mesmo percurso em apenas duas horas.

Daquele 14 de abril de 1944, até hoje, 14 de abril de 1994, passaram-se 50 anos de muita história e certamente de muito progresso. Um local onde hoje cresce com tanta pujança a cidade que um dia povoou seus sonhos de jovem.

Uma mão amiga toca em seus ombros e o desperta de seus sonhos, pedindo:

- João, vem descansar, porque amanhã é quatorze de abril e você tem que estar de pé logo cedo para participar das comemorações do aniversário da cidade.

Essa voz ele já conhecia bem era de Maria Rosa, sua querida companheira de tantos sonhos e tantas aventuras!

FIM



  Proteger as árvores, animais, rios e mares é um dever cívico. Faça sua parte, todos seremos responsabilizados pelo que estamos fazendo de mal a natureza.


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