Princesa
isabel
D. Isabel Leopoldina de
Bragança e Bourbon
D. Isabel, regente do Império do Brasil (1846 — 1921)
Chefes da Casa Imperial do Brasil
Ordem 1.º Chefe da Casa Imperial
Brasileira (1891 — 1921)
Predecessor D. Pedro II do Brasil
Sucessor D. Pedro Henrique
Cognomes A Redentora
Nascimento 29 de julho de 1846
em Rio de Janeiro
Morte 14 de Novembro de 1921 (75 anos)
em Eu
Pai D. Pedro II
Mãe D. Teresa Cristina
Consorte(s) Luís Filipe Gastão de Orléans |
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Dona Isabel Cristina Leopoldina Augusta Miguela Gabriela Rafaela Gonzaga de
Bragança e Bourbon (Rio de Janeiro, 29 de julho de 1846 — Eu, França, 14 de
novembro de 1921) foi princesa imperial do Brasil e regente do Império do Brasil
por três ocasiões, na qualidade de herdeira de seu pai, o imperador D. Pedro II,
e da imperatriz Dona Teresa Cristina. Foi a terceira Chefe de Estado brasileira
após sua avó Leopoldina e sua trisavó Dona Maria I. Foi cognominada a Redentora
por ter abolido a escravidão no Brasil. Após o casamento com o conde d'Eu, seu
nome completo passou a ser Isabel Cristina Leopoldina Augusta Miguela Gabriela
Rafaela Gonzaga de Orléans e Bragança.
A princesa Isabel foi também a primeira senadora do Brasil, cargo a que tinha
direito como herdeira do trono a partir dos 25 anos de idade, segundo a
Constituição do Império do Brasil de 1824.
Com a morte de seu pai, em 1891, tornou-se chefe da Casa Imperial do Brasil e a
primeira na linha sucessória ao trono brasileiro, sendo considerada, de jure,
Sua Majestade Imperial, Dona Isabel I, Por Graça de Deus, e Unânime Aclamação
dos Povos, Imperadora Constitucional e Defensora Perpétua do Brasil.
Nascimento e infância
Princesas Isabel e LeopoldinaIsabel nasceu no Palácio de São Cristóvão, e foi a
segunda filha dos Imperadores do Brasil.
Batizada na Capela Imperial no dia 15 de novembro de 1846 pelo bispo capelão-mor
Conde de Irajá, seu nome foi dado em homenagem à avó materna, a Rainha de
Nápoles.Seus padrinhos de batismo foram o Rei Consorte Fernando II de Portugal e
sua avó materna a Rainha Isabel de Nápoles. Com a morte precoce de seu irmão D.
Afonso, Isabel tornou-se a sucessora de seu pai. Neste mesmo ano de 1847
nasceria em 13 de julho a sua companheira de toda a mocidade, a Princesa
Leopoldina.
Em 1848 nasceu o seu segundo irmão varão, o Príncipe D. Pedro Afonso, que morreu
dois anos depois. Para herdar o trono do pai restava a princesa de quatro anos
de idade, designada doravante como Princesa Imperial. O reconhecimento oficial
como sucessora e herdeira do pai teve lugar a 10 de agosto de 1850, quando a
Assembléia-Geral, reunida no Paço do Senado às 11 horas da manhã, proclamou-a
herdeira do trono, de acordo com os artigos 116 e 117 da Constituição do Império.
A 29 de julho de 1860 completava Dona Isabel 14 anos e, de acordo com o artigo
106 da Constituição Imperial, deveria prestar o juramento de "manter a religião
católica apostólica romana, observar a Constituição política da nação brasileira
e ser obediente às leis e ao imperador."
Educação
A Condessa de BarralA fim de prepará-la para seu papel, começou D. Pedro II a
preocupar-se com a formação da futura imperadora. Desde cedo, porém, o Imperador
iniciou entendimentos para dar às filhas uma preceptora. Por indicação da tia
das princesas, a Princesa D. Francisca, a escolhida foi a Condessa de Barral,
filha do diplomata Domingos Borges de Barros, Visconde de Pedra Branca e esposa
do nobre francês Conde de Barral, considerada pela maior parte dos autores -
inclusive José Murilo de Carvalho, em seu
D. Pedro II (Companhia das Letras, 2007) - como o grande amor do imperador
seu pai. A Condessa iniciou suas funções em setembro de 1855.
Para a educação de D. Isabel e da sua irmã numerosos mestres foram designados,
que elaboraram um severo programa de estudos. Afirma D. Pedro II sobre a
educação de suas filhas:
"o caráter de qualquer das Princesas deve ser formado tal como convém a Senhoras
que poderão ter que dirigir o governo constitucional de um Império como o Brasil.
A instrução não deve diferir da que se dá aos homens, combinada com a do outro
Patologia: mas de modo que não sofra a primeira. Convirá conformar-se, quando for de
proveito, aos regulamentos da instrução pública primária e secundária. Poderá
impor castigos, e quando forem leves, sem meu conhecimento prévio, devendo
minhas filhas não saber [ilegível] que o tenho, quando isto não for conveniente,
sendo o maior deles a reclusão em um dos quartos dos respectivos aposentos,
assim como representar-nos, mesmo perante nossas filhas, sobre a justiça da
concessão de algum prêmio."
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Bilhete da Princesa Isabel a seu pai, datado de 13 de
maio de 1888:
"Empereur Brésil, Milan.
Acabo sanccionar a lei da extincção da escravidão. Abraço Papae com toda
a effusão do meu coração. Muito contentes com suas melhoras. Commungamos
hoje por sua intensão.
Isabel". |
Mas, apesar de todo este rigor, sua infância teve muitos momentos de
descontração, ao lado da irmã Leopoldina. Em seu diário ela diz: "Petrópolis,
residência de verão, residência deliciosa: jardins floridos, canais cortando a
cidade... " Ou mais adiante: "Eu fui de Petrópolis a pé até a cascata de
Tamarati. A mana andou tão pouco a cavalo."
Em São Cristóvão, para amenizar o ambiente carregado de estudos e deveres,
pequenas peças teatrais eram levadas à cena, em que as princesas desempenhavam
os principais papéis na companhia dos amigos de infância, inclusive pequenos
escravos.
A proximidade da princesa com os negros, desde a mais tenra infância, e o
diálogo franco e cordial com eles estabelecido, inclusive nas brincadeiras
infantis, pode vir a explicar sua futura inserção no movimento abolicionista. A
questão ainda não foi convenientemente estudada pela historiografia brasileira.
Fato pouco comentado é que D. Isabel possuía formação completa em Química e que
ela nutria profundo interesse pelas questões ligadas ao desenvolvimento da
educação no país, especialmente a educação pública, como fica patente na sua
Fala do Trono, enquanto Regente do Império, em 1º de fevereiro de 1877:
"A instrução pública continua a merecer do governo a maior solicitude. Foram
criadas no município da corte escolas de segundo grau, e as normais, destinadas
a preparar professores para o ensino primário de ambos os Patologias,terão de ser
brevemente inauguradas. Nas províncias este ramo de serviço apresenta sensível
progresso, limitado, porém pela falta de meios de que podem dispor. Se os
melhoramentos materiais por elas empreendidas têm recebido vosso auxílio,
justificada será qualquer despesa que autorizeis para coadjuvar esse grande
elemento de civilização."
Casamento
Família Imperial - da esquerda para a direita: conde d'Eu, D. Pedro II, D.
Teresa Cristina Maria e D. Isabel.Os preparativos para seu casamento foram
iniciados na década de 1860. Por indicação de sua tia, D. Francisca de Bragança
(filha de D. Pedro I), Princesa de Joinville na França, vieram ao Brasil dois
primos, os príncipes Gastão de Orleães e Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota,
sobrinhos-netos do rei Leopoldo I dos Belgas, sobrinhos de D. Fernando II de
Portugal, além de primos-sobrinhos da rainha Victoria e de Albert da
Grã-Bretanha.
O imperador havia tratado, através de seus ministros, o casamento da princesa
Isabel, herdeira do trono, com o duque Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota, o
segundo filho de Augusto de Saxe-Coburgo-Gota e da princesa Clementina de
Orléans; ao mesmo tempo, o primo deste, Luís Filipe Maria Fernando Gastão de
Orléans e Saxe-Coburgo-Gota (Louis Phillipe Marie Ferdinand Gaston d'Orléans et
Saxe-Cobourg et Gotha), conde d'Eu, foi prometido à princesa Leopoldina.
Quando da chegada dos dois jovens, as princesas perceberam que deveria ocorrer
uma troca, pois cada uma delas havia se encantado pelo pretendente da outra, e
imediatamente solicitaram aos pais que a troca fosse realizada. Tanto D.Pedro
quanto D. Teresa Cristina, favoráveis a que os casamentos fossem motivados não
apenas pelas questões dinásticas, mas também pelos afetos - até porque, no seu
próprio caso, havia ocorrido um choque inicial - consentiram imediatamente. Em
18 de setembro de 1864 o príncipe Gastão pediu a mão da Princesa Imperial do
Brasil.
O casamento teve lugar na Capela Imperial, no Rio de Janeiro, a 15 de outubro de
1864. No mesmo dia os noivos partiram para a lua de mel em Petrópolis, e em 10
de janeiro de 1865 seguiram para a Europa, onde a princesa conheceu os sogros.
Gastão, batizado Louis Philippe Marie Ferdinand Gaston, nascera em 1842 e morreu
em 1922 em águas brasileiras, a bordo do navio Massilia. Era não só conde d´Eu
como príncipe de Bourbon-Orléans, sendo feito depois marechal do exército
brasileiro. Era filho de Louis Raphael, Duque de Nemours, por sua vez filho do
Rei francês Luís Filipe I.
A Princesa Isabel em 1868, com 22 anosGastão assumiria o comando das tropas
brasileiras na fase final da Guerra do Paraguai, razão de preocupação para Dona
Isabel, e fato que provocou muita oposição em diversos círculos, pois nem sempre
foram sábias as decisões militares tomadas.
Finda a guerra o casal fez nova viagem à Europa, para visitar Leopoldina, doente.
Leopoldina morreu de tifo em 7 de fevereiro de 1871. No mesmo ano D. Pedro II
fez sua primeira viagem à Europa e Dona Isabel assumiu a regência, aos 24 anos.
Neste período foi assinada a 28 de setembro a Lei do Ventre Livre.
A ausência de filhos preocupava a todos. A princesa concebeu durante sua viagem
à Europa, mas somente no sexto mês de gravidez começou a pensar na dificuldade
de retornar ao Brasil para que aqui nascesse o herdeiro. Embarcou de volta dois
meses depois e, já no Brasil, nasceu morta uma menina, em 28 de julho de 1874,
no Palácio Isabel (atual Palácio Guanabara), batizada in articulo mortis com o
nome de Luiza.
Finalmente, em 15 de outubro de 1875, quando comemoravam onze anos de casados,
nasceu em Petrópolis o príncipe D. Pedro de Alcântara.
Em 26 de janeiro de 1878 nasceu o segundo filho D. Luís. No mesmo ano o casal
foi residir na França. Em 9 de agosto de 1881 lá nasceu o terceiro e último
filho, D. Antônio Gastão. No mesmo ano a família voltaria a viver no Brasil.
Postura política
Liberal, a princesa uniu-se aos partidários da abolição da escravidão. Apoiou
jovens políticos e artistas, embora muitos dos chamados abolicionistas
estivessem aliados ao incipiente movimento republicano. Financiava a alforria de
ex-escravos com seu próprio dinheiro e apoiava a comunidade do Quilombo do
Leblon, que cultivava camélias brancas, símbolo do abolicionismo. Chegava mesmo
a receber fugitivos em sua residência em Petrópolis:
"A Princesa Isabel também protegia fugitivos em Petrópolis. Temos sobre isso o
testemunho insuspeito do grande abolicionista André Rebouças, que tudo
registrava em sua caderneta implacável. Só assim podemos saber hoje, com dados
precisos, que no dia 4 de maio de 1888, “almoçaram no Palácio Imperial 14
africanos fugidos das Fazendas circunvizinhas de Petrópolis”. E mais: todo o
esquema de promoção de fugas e alojamento de escravos foi montado pela própria
Princesa Isabel. André Rebouças sabia de tudo porque estava comprometido com o
esquema. O proprietário do Hotel Bragança, onde André Rebouças se hospedava,
também estava comprometido até o pescoço, chegando a esconder 30 fugitivos em
sua fazenda, nos arredores da cidade. O advogado Marcos Fioravanti era outro
envolvido, sendo uma espécie de coordenador geral das fugas. Não faltava ao
esquema nem mesmo o apoio de importantes damas da corte, como Madame Avelar e
Cecília, condessa da Estrela, companheiras fiéis de Isabel e também
abolicionistas da gema. Às vésperas da Abolição final, conforme anotou Rebouças,
já subiam a mais de mil os fugitivos “acolhidos” e “hospedados” sob os auspícios
de Dona Isabel."
Conforme o artigo 46, capítulo 3, título IV, da constituição brasileira de 1824,
os Principes da Casa Imperial são Senadores por Direito, e terão assento no
Senado, logo que chegarem á idade de vinte e cinco annos. Dessa forma, em 1871,
D. Isabel Leopoldina tornou-se a primeira senadora do Brasil. Há que se notar
que foi a única a desfrutar desse dispositvo constitucional, haja vista que
todos os príncipes do Brasil que a antecederam ou morreram antes dos vinte e
cinco anos, ou se casaram com estrangeiros e partiram do país, à exceção de seu
pai, que assumiu o Trono aos quatorze anos de idade. Depois dela, a ordem
constitucional do Império caiu antes que os príncipes porvir pudessem tornar-se
senadores.
Bilhete da Princesa Isabel a seu pai, datado de 13 de maio de 1888:
"Empereur Brésil, Milan.
Acabo sanccionar a lei da extincção da escravidão. Abraço Papae com toda a
effusão do meu coração. Muito contentes com suas melhoras. Commungamos hoje por
sua intensão.
Isabel"."Isabel Cristina comemorou seu aniversário de 39 anos, em 1885, com uma
solenidade no Paço Municipal da capital, o Rio de Janeiro. Sentada, tendo a seu
lado o marido, foi a estrela da cerimônia em que diversos escravos foram
alforriados.Conforme os nomes dos beneficiados eram anunciados pelo vice-presidente
da Câmara, João Florentino Meira de Vasconcellos, eles seguiam para receber seus
certificados de libertação das mãos de Isabel. Cada ex-escravo curvava-se e, em
sinal de respeito e gratidão, dava um beijo na mão da aniversariante. A relação
de afeto entre a mulher e os negros começava a ser demonstrada publicamente."
Em 30 de junho de 1887 assumiu a regência do império pela terceira vez, pois seu
pai fora obrigado a afastar-se para tratamento de saúde na Europa. A abolição
provocava grande oposição entre os fazendeiros escravocratas. Poderosos, esses
escravocratas infundiram na opinião pública, através do Parlamento e da imprensa,
a idéia de que a abolição da escravidão seria a bancarrota econômica do império,
pois as prósperas fazendas de café e açucar do Brasil de então eram todas elas,
regadas com o suor do escravo. O negro era contado, medido e pesado e os
juristas dos escravocratas criaram a tese jurídica de que o escravo era "propriedade"
do senhor de engenho e, portanto, estavam sob amparo da Constituição, que
garantia o "direito de propriedade". Eram tensas as relações entre a Regente e o
Gabinete ministerial conservador. A Princesa aliava-se ao movimento popular,
enquanto o Barão de Cotegipe defendia a manutenção da escravidão. Aproveitando-se
da oportunidade oferecida por um incidente de rua, Isabel demitiu o ministério e
nomeou o conselheiro João Alfredo, demonstrando determinação política e
convicção do que considerava o melhor para o País, pois o Brasil foi a última
Nação do ocidente a abolir a escravidão. Na Fala do Trono, de 1888, Isabel
dissera com o coração jubiloso: "confio em que não hesitarei de apagar do
direito pátrio a única exceção que nele figura..." O Conde D"Eu, marido de
Isabel, ainda lhe advertiu: "não assine, Isabel, pode ser o fim da Monarquia."
Mas a Princesa estava determinada e respondeu prontamente ao marido: "É agora,
ou nunca!" Afinal, a escravidão, que tanto envergonhara a raça humana no Brasil,
já durava, em 1888, tres séculos, vitimando 12 milhões de negros africanos.
Estava aberto o caminho para a liberdade dos escravos no império.
O Juramento da Princesa impérial Dona Isabel, como regente do Império do
Brasil.Em 13 de maio de 1888, num domingo, aconteceram as últimas votações de um
projeto de abolição total. Certa da vitória, a regente desceu de Petrópolis,
cidade serrana, para aguardar no Paço Imperial o momento de assinar a Lei Áurea.
Usou uma pena de ouro especialmente confeccionada para a ocasião, recebendo a
aclamação do povo do Rio de Janeiro. O Jornal da Tarde, de 15 de maio de 1888,
noticiou que "o povo que se aglomerava em frente do Paço, ao saber que já estava
sancionada a grande Lei, chamou Sua Alteza, que aparecendo à janela, foi saudada
por estrepitosos vivas." As galerias do Paço estavam repletas, e sob vivas e
aplausos de uma multidão estamada em 10 mil pessoas, Isabel sancionou a Lei
aprovada pelo Parlamento do Império. O jornalista mulato José do Patrocínio,
aliado da Coroa, invadiu o recinto sem que ninguém conseguisse detê-lo e atirou-se
aos pés da Princesa Regente em prantos de gratidão. Isabel dava provas, de que
seu reino era, sim, deste mundo, contrariando a ironia do conselheiro Saraiva
que afirmara justamente o contrário, zombando do sentimento profundamente
cristão de Isabel . A história há de fazer sempre justiça à "Princesa Redentora",
título que lhe atribuiu José do Patrocínio, pois ela demonstrou no processo
abolicionista firmeza, coragem e, sobretudo, nobre desapego ao cargo, o qual -
lhe previniram - haveria de ser dela tomado pela reação inevitável dos altos e
egoísticos interesses escravocratas contrariados, tudo conforme relata o livro
Dom Pedro II e a Princesa Isabel, da Editora Lorenz, onde consta memorável
testemunho do nobre abolicionista Joaquim Nabuco: " No dia em que a Princesa
Imperial se decidiu ao seu grande golpe de humanidade, sabia tudo o que
arriscava. A raça que ia libertar não tinha para lhe dar senão o seu sangue, e
ela não o queria nunca para cimentar o trono de seu filho. A classe proprietária
ameaçava passar-se toda para a República, seu pai parecia estar morimbundo em
Milão, era provável a mudança de reino durante a crise , e ela não hesitou: uma
voz interior disse-lhe que um grande dever tem que ser cumprido, ou um grande
sacrifício que ser aceito. Se a Monarquia pudesse sobreviver à abolição, esta
seria o apanágio. Se sucumbisse, seria o seu testamento..."
Em 28 de setembro o Papa Leão XIII lhe remeteu a comenda da Rosa de Ouro, como
reconhecimento pela Abolição da Escravatura. Essa comenda pontifícia simboliza o
reconhecimento do Papa a algum feito notável e que mereça regozijo de toda a
Igreja. A Princesa Isabel foi a única personalidade brasileira a receber a Rosa
de Ouro. Ou outros dois exemplares foram dedicados à Basílica de Nossa Senhora
Aparecida pelos Papas Paulo VI (1965) e Bento XVI (2007).
Mas a elite cafeeira não aceitava a abolição. Cotegipe, ao cumprimentar a
princesa, vaticinou: "Vossa Alteza libertou uma raça, mas perdeu o trono". Mas a
Princesa não hesitou em responder: "Mil tronos eu tivesse, mil tronos eu daria
para libertar os escravos do Brasil"
De pensamento arrojado para sua época, Dona Isabel era partidária de idéias
modernas, como o sufrágio feminino e a reforma agrária. Documentos recentemente
descobertos revelam que a princesa estudou indenizar os ex-escravos com recursos
do Banco Mauá.
A República e o exílio
Princesa Isabel, 1875.Em 9 de novembro de 1889, poucos dias antes do golpe
militar que instaurou a República no Brasil, a família imperial compareceu ao
Baile da Ilha Fiscal, o último da monarquia:
"Dançou-se muito no baile da Ilha Fiscal, mas o que os convidados não imaginavam,
nem o imperador D. Pedro II, é que se dançava sobre um vulcão. À mesma hora em
que se acendiam as luzes do palacete para receber os milhares de convidados
engalanados, os republicanos reuniam-se no Clube Militar, presididos pelo
tenente-coronel Benjamin Constant, para maquinar a queda do Império. "Mais do
que nunca, preciso sejam-me dados plenos poderes para tirar a classe militar de
um estado de coisas incompatível com sua honra e sua dignidade", discursou
Constant na ocasião, tendo como alvo justamente o Visconde de Ouro Preto. Longe
dali, ao lado da família imperial, o visconde desmanchava-se em sorrisos ao
comandar seu suntuoso festim. A família imperial chegou ao cais pouco antes das
10 horas. D. Pedro II, fardado de almirante, a imperatriz Teresa Cristina e o
príncipe D. Pedro Augusto embarcaram primeiro. Quinze minutos depois foi a vez
da princesa Isabel e do conde D’Eu. Uma vez no palácio, foram conduzidos a um
salão em separado, onde já se achavam reunidos membros do corpo diplomático
estrangeiro oficiais e alguns eleitos da sociedade carioca. O guarda-roupa da
imperatriz não chegou a causar impressão especial entre os convidados - um
vestido de renda de chantilly preta, guarnecido de vidrilhos. A toalete da
princesa Isabel, no entanto, causou exclamações de admiração pelo luxo e pela
beleza. Ela portava uma roupa de moiré preta listada, tendo na frente um
corpinho alto bordado a ouro. Nos cabelos, carregava um diadema de brilhantes. "
Mil tronos eu tivesse, mil tronos eu daria para libertar os escravos do Brasil
Princesa Isabel
Na sequência, pouco mais de um ano depois de testemunhar o júbilo popular com a
abolição da escravatura, Dona Isabel veria a monarquia no Brasil ser extinta.
Insuflados pelos radicais positivistas e apoiados pelos fazendeiros, os
militares depuseram o gabinete do Visconde de Ouro Preto e instauraram uma
ditadura republicana. Dona Isabel seguiu com sua família para o exílio, na
madrugada de 17 de novembro de 1889. Segundo suas próprias palavras, deixou a
pátria aos soluços. Os temores expressos na carta de três meses antes se
confirmaram antes de que fosse possível legar aos negros libertos sua cota de
justiça.
D. Pedro II morreu em Paris, em 5 de dezembro de 1891, e ela passou a ser
considerada pelos monarquistas imperadora de jure do Brasil - D. Isabel I.
Apesar da dor do exílio Dona Isabel teve uma velhice tranqüila, instalada no
castelo da família em Eu, na Normandia, propriedade de Gastão de Orléans (Castelo
d'Eu). Rodeada pelos filhos e netos fez de sua casa uma embaixada informal do
Brasil. Recebia brasileiros de passagem, ajudou o jovem Alberto Santos-Dumont
quando desenvolvia suas invenções. Passou os últimos anos da vida com
dificuldades de locomoção. Em 1920 teve a felicidade de saber que a lei que
bania a Família Imperial do Brasil havia sido revogada pelo Presidente Epitácio
Pessoa.
Neste sentido, convém notar, como em todos os processos históricos, houve uma
disputa judicial, iniciada logo após o exílio forçado, e durante a qual
aconteceram avanços e retrocessos, pareceres favoráveis e desfavoráveis e uma
série de constrangimentos pelos quais a família imperial teve de passar. Em
1903, por exemplo, foi julgado em 14 de janeiro um pedido de habeas corpus
impetrado pelos republicanos Urbano Sampaio Neves, Olympio Lima e Alberto Veiga:
"Olympio Lima e outros impetram ordem de habeas corpus em favor de Gastão de
Orleans, Conde d'Eu, sua mulher Izabel de Orleans e demais membros da ex-dinastia
brasileira de Bragança, para que cesse o constrangimento ilegal de que são
vítimas, por força do decreto que os baniu do território nacional, e pedem a
anulação do citado decreto, alegando que ele foi revogado pela Constituição
Federal."[8]
Sobre o habeas corpus, sua elaboração e princípios, o site Histórias e Lendas de
Santos[9] afirma:
"A idéia de um habeas-corpus em favor da banida Família Imperial Brasileira
nasceu do doutor Urbano de Sampaio Neves, ilustre advogado. Sua ação, como
republicano, traduzira-se bem em seus trabalhos de jornalista no ultra-republicano
Diário de Notícias. As conclusões a que chegara Urbano Neves são simples e
objetivas: "Somente por ilegalidade, timidez ou indiferença é que a Família
Imperial continua no exílio sob a pressão do decreto que a baniu do território
nacional; só por estranho capricho, ou revoltante ingratidão, é que se recusa
sepultura em terra brasileira ao venerando Monarca que durante meio século
dirigiu os destinos deste País". Urbano Neves levou sua idéia ao doutor Martim
Francisco Ribeiro de Andrada - duplamente ilustre, pela ascendência e pelo
talento - sugerindo-lhe que requeresse uma ordem de habeas-corpus, já que suas
opiniões políticas o aproximavam da Monarquia, já porque a sua comprovada
competência jurídica e o prestígio de seu nome dariam àquele recurso as
proporções de verdadeiro acontecimento. O doutor Martim Francisco, porém,
recusou a idéia. Escrúpulos de ordem moral e política, que a situação
justificava, e porque a seus amigos e correligionários parecia inoportuna
qualquer atitude que provocasse, por parte das autoridades republicanas, maiores
desabrimentos e intolerâncias, deixava de intentar o recurso sugerido,
aguardando melhores tempos e melhores circunstâncias. Suas idéias eram, porém,
francamente favoráveis ao habeas-corpus e, por várias vezes, manifestou-se
publicamente a seu favor. Uma vez que a iniciativa do recurso de habeas-corpus
não partia do elemento dinástico, partisse, então, dos republicanos, como
afirmação categórica do sentimento de justiça que deve presidir os regimes
democráticos. E dessa vez não houve medo, receio, escrúpulo, precaução. Os dois
mais brilhantes redatores de A Tribuna, Olympio Lima, seu fundador, e Alberto
Veiga, talvez o mais perfeito estilista da imprensa santista, colocaram-se ao
lado de Urbano Neves. E juntos, diante do País e da História, assumiram a
inteira responsabilidade desse ato superior e necessário. Isso estabelecido,
caberia, naturalmente, a Urbano Neves redigir a petição, já que teve a
iniciativa da idéia e era dono do conhecimento profissional necessário, mas o
advogado preferiu confiar a Alberto Veiga, sob sua assistência quanto à parte
jurídica, aquela tarefa. Sem dúvida alguma, ninguém melhor do que Alberto Veiga,
o mais completo redator, o mais perfeito articulista, para redigir o documento.
E, igualmente, ninguém mais autorizado a ser um aliado naquele trabalho, pelo
seu caráter, honra e sentimento de justiça, cerrando fileiras junto aos demais,
pela causa."
Sobre a revogação do Decreto de Banimento propriamente dito, a notícia foi
veiculada inicialmente pelo Jornal O Imparcial, do Rio de Janeiro, no dia 4 de
setembro de 1920.[10] O decreto 4.120, assinado em 3 de setembro de 1920,
procurava corrigir uma distorção jurídica, onde uma família brasileira, que não
cometera crime algum, fora expulsa do país de maneira arbitrária.
É a historiadora Luciana Pessanha Fagundes, em seu memorável artigo Memórias da
monarquia: D.Pedro II no cenário político da década de 20 quem nos descreve as
circunstâncias em que se deu esta revogação:
"Enfim, no dia 3 de setembro realizava-se no Salão de Despachos do Palácio do
Catete a assinatura do decreto que revogava o banimento da família real. Para
assinatura do decreto foi oferecida ao presidente uma caneta de ouro obtida
especialmente para a ocasião com dinheiro arrecadado mediante subscrição pública
promovida pelo jornal A Rua. A cerimônia foi realizada com a presença de
comissões de várias instituições importantes como o Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, a Associação Brasileira de Letras e a Associação
Brasileira de Imprensa. O decreto é caracterizado como uma “nova Lei Áurea” por
Affonso Celso em artigo para o Jornal do Brasil. O presidente do IHGB apontava
que a denominação Lei Áurea para a lei assinada naquele dia se devia pelo fato
de que, assim como a de 13 de maio, “essa lei repara uma grave injustiça” e
também “redime do exílio a excelsa senhora que mereceu o cognome de Redentora”.
A república teria, então, inscrito nos anais da história uma “data luminosa
semelhante aquela do Império”. Revogado o banimento, são formadas rapidamente
duas comissões, capitaneadas pelo IHGB, encarregadas de organizar a recepção dos
despojos do imperador e da imperatriz."
Além do banimento - por si só um ato autoritário e injustificável - ocorreu um
verdadeiro confisco dos bens (particulares) da família imperial. Pouco comentado
pela historiografia brasileira é o fato de que praticamente todos os bens e
pertences dos Orleans e Bragança foram leiloados:
"No Brasil de 1890 deram-se 13 leilões dos bens da Casa Imperial - objetos,
móveis e semoventes. Procederam à avaliação dos móveis, carros, animais e
objetos existentes na Quinta da Boa Vista e os vindos do Paço da Cidade o
tenente-coronel Costa Ferreira, da parte do Juízo da 2ª Vara de Órfãos e João
Teixeira, por parte do dr. José da Silva Costa, procurador de d. Pedro de
Alcântara. O Juiz da 2ª vara, dr. Honório Coimbra nomeou para proceder ao leilão
o leiloeiro Joaquim Dias dos Santos. Francisco Marques dos Santos, em seu artigo
intitulado O leilão do Paço de São Cristóvão, publicado no Anuário do Museu
Imperial, vol. 1, 1940, fala dos absurdos, da desordem, da avaliação arbitrária
e venda forçada dos bens da família."
Exilada, expoliada, com a saúde frágil, extremamente abalada pela morte de dois
de seus filhos (Antônio, em 1918, e Luís, em 1920), a princesa Isabel faleceu em
14 de novembro de 1921. Foi sepultada no cemitério local, de onde seria
trasladada em 6 de julho de 1953 para um jazigo no Mausoléu Imperial da Catedral
de Petrópolis. Como afirma Nelly Martins Ferreira Candeias [13]: "A Princesa
Isabel conviveu com o predomínio agrário do tempo e declínio dos escravagistas
marginalizados pelo golpe fatal da Abolição. Enfrentou a ideologia republicana
dos adversários, a extinção da monarquia e as tristezas do exílio."
Princesa Isabel e o conde D'Eu com alguns de seus netos.Posteridade
Foi organizado em julho de 2006 pelo Museu Imperial, IPHAN e Ministério da
Cultura, no Museu Imperial – Rua da Imperatriz, 220 – Petrópolis – Rio de
Janeiro - um seminário comemorativo do 160º aniversário da Redentora, intitulado
A Princesa das Camélias.
Há questões controversas a seu respeito, as quais a historiografia não tem dado
conta de esgotar. Sabe-se que seu pai, por mais que a amasse, não a fez
participar da vida política, até tornar-se ela regente por ocasião da primeira
viagem do imperador ao estrangeiro. Seu catolicismo intenso fez que alguns
temessem que, no poder, ela subordinasse a política a considerações
ultramontanas. Diz-se que o próprio marechal Deodoro da Fonseca, que depôs a
monaquia, admitia a república para depois da morte de D. Pedro II. Em outras
palavras, muitos queriam que D. Pedro II reinasse em paz até o fim da vida, mas
não admitiam que houvesse uma Dona Isabel I.
Para os contemporâneos, especialmente os militares e fazendeiros, sua
compreensão do próprio papel como governante do país seria inspirada pelo
catolicismo ou então ela seria um fantoche nas mãos do marido. Esta postura,
machista e preconceituosa, era encampada por grande parte da imprensa:
"Isto leva a imprensa a publicar avaliações sobre a última regência de Isabel,
sendo que estas são absolutamente contrastantes em alguns aspectos, dependendo
da orientação política dos periódicos, ou totalmente coincidentes apesar dela.
A análise dessas avaliações nos levou a concluir que havia um consenso, ao menos
na imprensa, de que o afastamento do Barão de Cotegipe, a escolha de João
Alfredo e a abolição se fizeram por ação direta da Princesa, e que, estando
D.Pedro II no trono, ela talvez não ocorresse naquela hora e muito menos da
forma que foi feita, sem indenização.Isso é o provável motivo que, ao fim de sua
regência, levava a imprensa abolicionista a exaltar seu ato e a não
abolicionista a culpá-la pela sua insatisfação e pelas conseqüências que dela
adviriam. No entanto, apesar ter suas virtudes e qualidades morais muitas vezes
exaltadas, todos foram unânimes em considerar Isabel sem condições de
governar,permanecendo a imagem de que a uma mulher cabe exercer seu papel
exclusivamente na vida privada.Sua religiosidade e a idéia de que ela era
facilmente influenciável,em especial por seu marido,também continuavam a
aparecer para todos como um problema agravante. Um outro fator que ficava
evidente era a debandada da classe agrária em direção ao movimento republicano e
a organização deste, cada vez mais eficiente. Quando finda a terceira regência
da Princesa, o republicanismo já havia se espalhado."
Em relação às afirmações da imprensa da época, dos primeiros republicanos e da
unanimidade da historiografia brasileira, tanto positivista quanto marxista, até
bem recentemente, podemos usar como contraponto a argumentação de Rachel
Aparecida Bueno da Silva:
"Na verdade, passados mais de 100 anos da Proclamação da República, podemos nos
questionar o quanto de ideológico existia nas colocações dos primeiros
republicanos, imbuídos que estavam da vontade de consolidar um regime recém
inaugurado e prover a devida justificativa teórica para a mudança da forma e do
sistema de governo: de monárquico para republicano e de parlamentar para
presidencialista."
Interesses pela Doutrina Espírita
Apesar de ser a Princesa Isabel católica praticante, consta de uma carta que
Manuel de Araújo Porto-Alegre, o Barão de Santo Ângelo, escreveu a seu amigo e
professor dos filhos da princesa, Joaquim Manuel de Macedo, que Sua Alteza, um
dia, perguntou-lhe: "quem é meu Espírito protetor?" Manuel de Araújo Porto-Alegre
era espírita declarado e se regozijava disso, dedicando-se entusiasticamente à
psicografia. A carta do barão de Santo Ângelo, datada de 25 de dezembro de 1865,
com doze páginas manuscritas, foi escrita da cidade de Dresda, na Alemanha, e se
encontra arquivada no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro. O documento porém
nada elucida além de uma curiosidade por parte da princesa imperial.
Extremamente religiosa e ligada ao Papa e ao ultramontanismo, colocava-se sempre
ao lado da Igreja em diversas ocasiões. A religiosidade da Princesa e o desejo
de seu Pai, o Grande Imperador Dom Pedro II, em ver o Brasil transformado em um
estado laico constam do livro "Dom Pedro II e a Princesa Isabel, Uma Visão
Espírita-cristã do Segundo Reinado", publicação da Editora Lorenz, primeiro
livro do gênero lançado no dia 13 de maio de 2008 na Academia Brasileira de
Letras
Representações na cultura
A Princesa Isabel já foi retratada como personagem no cinema e na televisão,
interpretada por Ana Lúcia Torre na novela "Memórias de Amor" (1979), Tereza
Raquel nas minisséries "Abolição" (1988), e "República" (1989), Miriam Mehler no
seriado "Mundo da Lua" (1991), Irene Ravache na novela "Sangue do Meu Sangue"
(1995), Rosamaria Murtinho na minissérie "Chiquinha Gonzaga" (1999), e Carolyna
Aguiar no especial de fim de ano da TV Globo "O Natal do Menino Imperador"
(2008).
Também teve sua efígie impressa nas notas de Cr$ 50 (cinqüenta cruzeiros) de
1949 e nas de Cr$ 200,00 (duzentos cruzeiros) de 1981.
Descendência
D. Luísa Vitória de Orléans e Bragança;
D. Pedro de Alcântara de Orléans e Bragança;
D. Luís Maria Filipe de Orléans e Bragança;
D. Antônio Gastão de Orléans e Bragança.
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Petrópolis: Petrópolis, 1989, p.34
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